terça-feira, 27 de julho de 2010

As Bruxas estam soltas


Nas histórias de terror contadas pelo folclore em todo o mundo as bruxas com suas bruxarias sempre foram vistas como coisas bizarras ou do mal. Aqui estou, na condição de bruxa, para mostrar a verdadeira realidade e proteger a dignidade dos bruxos e bruxas que ainda existem e que agora estão se multiplicando em todo o mundo. Começo explicando a origem do nome wicca ou wicce, palavra de raiz anglo-saxã, que significa moldar ou as pessoas que moldam suas vidas.

A wicca (ou bruxaria) é uma religião de origem xamanística, com traços celtas. Muitos não consideram a wicca uma religião, porque acham que é uma seita ou um culto ao diabo. Isso teve início quando a Igreja Católica começou a ter força na Europa Ocidental. A partir daí, começou a perseguição e execução de muitas bruxas, o que deu origem à chamada Inquisição. Nesse evento, muitos inocentes foram executados por acreditarem em outras religiões.

Ao contrário do que muitos imaginam, a nossa religião wicca é baseada na vida e no amor. Procuramos entrar em harmonia com a natureza e respeitar e cuidar do nosso planeta. Acreditamos que tudo é formado por dois pólos opostos: a Deusa Tríplice e o Deus Cornífero. A Deusa Tríplice apresenta as suas três faces: a donzela, a mãe e a anciã. É dela o útero germinador de tudo que tem vida neste mundo. É ela quem dá à luz ao mundo e tudo que nele existe; ela é a bela mulher que dança e rodopia feito uma espiral no meio do campo florido. Ela é a lua que brilha todas as noites.

O Deus Cornífero é aquele que semeia o útero da Grande Deusa, que a espreita no meio do mato enquanto se prepara para agarrá-la como um bicho prende sua caça. Ele é o sol que ilumina a cada dia. Juntos, eles nos dão vida. São duas forças opostas que se unem gerando apenas uma. Infelizmente, o Deus Cornífero é confundido com o satanás da Igreja Católica, em razão de sua coroa de chifres. Nós, bruxas, não adoramos o diabo e nem cultuamos o demônio. Isso é pura especulação política do cristianismo medieval e atual.

Na wicca, ensinamos que é necessário ter duas forças opostas, porque acreditamos que uma religião baseada apenas em um único deus é tão desequilibrada quanto a baseada em apenas uma deusa. Nós reconhecemos os dois lados dos deuses, tanto o lado claro quanto o escuro. Quando se diz escuro, não quer dizer mau ou ruim, e sim justo. Por exemplo, se o homem destruir a natureza, a natureza também destruirá o homem. Isso é ser justo.

Cabe falar um pouco sobre as comemorações wiccans, que denominamos Roda do Ano, onde se festejam os sabás e os esbaths. Os sabás são festivais baseados no ciclo do Sol, que dão origem às estações do ano. No total, são oito sabás. São eles: Lammas ou Lughmasat; Mabon ou Equinócio de Outono; Samhain, que é o famoso Dia das Bruxas; Yule ou Solsticio de Inverno; Imbolc ou Caldemas; Ostara ou Equinócio de Primavera; Beltane; e Litha ou Solstício de Verão.

Existe uma grande confusão a respeito dos sabás, pois existem dois calendários: o do Norte e o do Sul. No Brasil, muitos bruxos utilizam o calendário do Norte, achando que não se tem “clima” para se comemorar os sabás em suas datas diferentes das do Norte. Na opinião formal, se não comemoram-se os sabás nas estações certas, a energia humana diminui muito, ficando sem sentido festejar o inverno enquanto é verão.

Os esbaths são comemorações à lua cheia, que para os wiccans é um dia de santidade e espiritualidade. No total, são 13 comemorações por ano, que marcam o final do ano lunar,que, para os wiccans, treze luas cheias significam ano novo.

A wicca é uma religião baseada na magia, mas a maioria pensa que magia é acender velas coloridas, fazer algum feitiço ou ritual. Mas não é só isso, magia também é gerar um filho, dar à luz a uma criança, cozinhar, viver. Este é o verdadeiro sentido da magia. Muitos também pensam que as bruxas fazem magia negra. Cabe explicar que nós, bruxas, não acreditamos no conceito do bem ou do mal. Podemos usar da magia para ajudar uma pessoa ou para prejudicá-la. Isso significa, portanto, que a magia não é má, ela é o que se desejar que ela seja.

Um dos princípios que a wicca defende é "faça o que quiseres desde que não prejudiques ninguém". Sendo assim, antes de se fazer um feitiço ou ritual, deve-se pensar muito sobre as conseqüências desse ritual, pois acreditamos na chamada "lei do tríplice retorno". Essa lei prega que tudo que se faz retorna três vezes pior ou melhor, dependendo do tipo de sentimento que se coloca no feitiço.

Quando praticamos nossos rituais ou feitiços fazemos sempre dentro de um círculo de energia, e invocamos a Deusa e o Deus para que compareçam. Invocamos também os quatro quadrantes, que são as 4 direções representadas pelos quatro elementos: ar, fogo, água e terra. Encerramos os nossos rituais agradecendo à Deusa, ao Deus, aos quatro elementos e fechamos o círculo. Infelizmente, muitas pessoas pensam que fazemos nossos rituais usando sangue ou fazendo sacrifícios, mas isso não é verdade, pois a Deusa não admite que façamos mal à natureza.

Para fazermos os feitiços e os rituais usamos alguns instrumentos, como o caldeirão, a varinha, a vassoura e o punhal. Com o passar do tempo, muitas pessoas distorceram a história desses instrumentos, que passaram a servir para coisas incríveis e absurdas, como ferver pernas de sapo, olho de cobra e asa de morcego para fazer alguma poção. Nossa varinha virou algo tão superpoderoso, que seja qual for o desejo ele acaba surgindo como num passe de mágica. Nossa vassoura tanto conseguiu vencer a gravidade, que saiu voando pelo mundo afora. Isso é um verdadeiro absurdo!

Mas já que estamos falando em vassoura, outro mito é o de acreditar que nós voamos em vassouras. Este mito remonta aos tempos em que as bruxas faziam seus rituais nos campos nos períodos de plantação. Para fazer com que as plantas crescessem fortes, elas corriam pelo campo montadas em suas vassouras. O problema é que as pessoas que assistiam tal cena acabavam descrevendo-a para outras e sempre exageravam na história. E a tal ponto que a informação foi tão distorcida que as bruxas começaram a voar na boca do povo.

Por outro lado, muitos pensam que a wicca é uma religião feminista. Outra mentira. A wicca é uma religião para ambos os sexos. É verdade que muitas mulheres extremamente feministas fazem da wicca uma religião mais feminina que masculina. Por isso, não se encontra um único livro que faça referência aos bruxos. Eles sempre referem-se às bruxas. Por que não um livro para bruxos?

Isto expõe o preconceito que nós, bruxas, sofremos, na escola, no trabalho, enfim, no dia-a-dia. O preconceito é tanto, que algumas pessoas inventam calúnias, nos olham com medo, pensando que somos os monstros que o folclore conta. As bruxas são pessoas como quaisquer outras deste planeta. Eu sou uma bruxa ou wiccana, como preferirem chamar. E tenho muito orgulho de ser o que sou, pois, como qualquer devoto das demais religiões, gosto da minha. O que se deve aprender, tanto da parte wiccana quanto da parte das outras religiões, é que existe a lei universal da liberdade religiosa. E a melhor maneira de seguir essa lei é respeitando para ser respeitado.

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