quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aprendendo com os Mitos e Lendas


Os Xamãs foram os primeiros contadores de estórias, tecendo os mitos que ainda hoje nos emocionam. O melhor modo de se ensinar ainda é através da parábola, um tipo especial de estória. O xamã deve aprender o maior número possível de estórias, lendas, contos apócrifos e mitos. Porém, a mais importante estória a ser aprendida é a sua própria. Não só você deve aprendê-la, como também deve aprender a contá-la, para a mais exigente platéia que existe: você mesmo.

Tudo possui as qualidades do mito. A vida é cheia de alusões míticas, as quais você, como um xamã contador de estórias, deve aprender a cantar. Por esta razão, você deve prosseguir em sua exploração pessoal das infinitas dimensões interiores do universo. Sempre que um xamã ingressa no Outro Mundo, retorna com uma nova estória para contar.

As práticas religiosas convencionais, por mais válidas que sejam, costumem desapontar, pois não atendem ao profundo desejo que os humanos nutrem por mitos. Como diz Alberto Villoldo em seu livro The Four Winds, qualquer sacerdote não passa de um "zelador de mitos," enquanto que o xamã penetra nas regiões mais profundas do Outro Mundo e retorna com novos mitos em criação. Ele então os preserva, como os xamãs fazem desde tempos imemoriais.

O grande mitógrafo Joseph Campbell disse, em mais de uma oportunidade, que ele cria que uma mitologia para a nossa era não só era necessária, como estava em formação, apesar de não saber precisar que forma ela teria. Creio que esta pode muito bem ser o mito xamânico, e que, ao resgatar as lendas e os ensinamentos da tradição celta, estaremos começando a construir nossa própria parte nesse mito. O xamanismo atende tão bem às necessidades do mundo justamente por ter como base um conjunto comum de percepções, e porque ele se relaciona de modo preciso com o mundo em que vivemos.

Se assim é, o que nós, Xamãs Celtas, podemos fazer para acrescentar nossas próprias vozes a esta estória em evolução? Devemos aprender algumas das histórias maravilhosas encontradas na ancestral literatura celta. As antigas lendas eram outrora narradas nos salões dos reis celtas. Ao trabalhar com elas, você se aproximará dos espíritos do povo celta, e de seus poetas-xamãs e contadores de estórias. Elas não são inacessíveis, como alguns podem imaginar, e representam o melhor meio de se conectar à tradição das terras celtas. Quando encontrar uma lenda que possua elementos xamânicos (ou que lhe seja interessante), tente memorizá-la.

Isto não é tão difícil quanto se pode imaginar. Não se trata de repetir as mesmas palavras todas as vezes, mas de conhecer os componentes da estória e o modo como eles se encaixam. Depois que compreender isto, você poderá contar as estórias a quem desejar ouvi- las - e certamente todos gostam de uma boa estória!

Com o tempo, você se verá pronto para começar a contar uma outra estória - a sua própria. Toda a sua vida é uma estória, e há muito a se aprender quando, de tempos em tempos, revemos nossas vidas. Tente relatar alguns pequenos episódios em voz alta para você mesmo, como se estivesse repetindo uma anedota num círculo de amigos, à mesa de jantar. Desta vez, porém, não omita nada, como pode se ver tentado a fazer em outras circunstâncias, e procure conscientemente pelos padrões ocultos que formam todas as nossas vidas. Busque as referências importantes a características suas das quais você não se dá conta. Você se surpreenderá com a natureza reveladora das coisas de que você "se lembrará."

Deixei um dos ensinamentos mais importantes praticamente para o fim: como recontar a sua própria estória. Os celtas amavam lendas, e possuíam uma classe profissional, os bardos e seanachies, cuja tarefa era memorizar centenas de estórias. Muitas destas se perderam para sempre, apesar de conhecermos os nomes de algumas. Mais importante do que isso, porém, é aprender a contar sua lenda em todos os dias de sua vida. Qual é a sua estória? Que tipo de pessoa ela faz de você? Você é um guerreiro, um curandeiro, um músico, um viajante? Estes são apenas alguns dos papéis que você pode desempenhar - talvez diversos durante sua vida. Você deve perguntar a si mesmo em que tipo de lenda você vive, e então poderá começar a contá-la, a princípio somente para você, talvez. Você pode escrevê-la, e lê-la novamente após algumas semanas. Veja, então, se consegue identificar os padrões que se ocultam sob a superfície.

O ato de contar estórias é uma forma de ensino usada desde os primórdios dos tempos. As parábolas de Cristo e dos monges celtas eram estórias que nos ensinavam a viver. Entre os nativos da América do Norte, os Aborígenes da Austrália e os cantores Sami da Lapônia, por exemplo, existem repertórios virtualmente infinitos de lendas que narram a recriação e a perpetuação do sagrado, e a relação das pessoas com este último. As antigas estórias e canções tradicionais recitadas pelos bardos celtas visavam a, simultaneamente, entreter e instruir. As estórias e lendas dos celtas nos falam do Outro Mundo, deste mundo, de nós mesmos. Convém aprender ao menos algumas de cor; não importa se as palavras não são sempre as mesmas, desde que os elementos da estória estejam firmemente enraizados em você. Assim, você poderá contá-las a qualquer um que deseje ouvi-las, e você poderá se surpreender com a quantidade de pessoas interessadas. Tente contá-las a seus filhos; venho contando estórias mágicas a meu filho desde que ele era crescido o bastante para compreender minhas palavras. Por vezes, ele as entende melhor do que eu!

Assim, ouça as antigas estórias, e você verá o quanto aprenderá. Muitos dos antigos ensinamentos estão contidos nessas lendas, apenas aguardando para serem retirados e praticados. Depois de um certo tempo, você verá que novas estórias surgirão a você, talvez contendo elementos das antigas lendas que se revelam de outras formas. Escreva- as, e tente decorá-las. Se você é capaz de memorizá-las sem precisar escrever, tanto melhor, pois assim elas serão realmente uma parte de você.

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