sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Oxossi


O PERFIL DO ORIXÁ

Numa visão antropológica, os Orixás são vibrações de energia, cada uma numa faixa própria, com as quais os seres humanos se identificam, o que justifica a existência de filhos de diferentes Orixás. Assim os filhos de Oxóssi, são aqueles cujo metabolismo básico e características de personalidade herdadas geneticamente mais se identificam com uma matriz, o próprio Oxóssi, que se manifesta em ambientes como florestas cerradas, parques onde animais são preservados, espaços enfim, de contato entre o homem e os animais. Numa visão teológica, os Orixás são divindades a serem respeitadas e cultuadas por seus filhos, que com eles entrariam em contato através de diferentes rituais disseminados na cultura tribal africana e que no Brasil estão agrupados sob o rótulo de uma religião, a Umbanda e o Candomblé. Cada divindade possui lendas que justificam seu destino e principalmente o arquétipo de comportamento à ela associado. A Umbanda cultuada no Brasil é uma síntese de diversas manifestações diferentes da África, unindo preceitos e práticas que no continente negro se manifestam em povos isolados. Há porém, uma corrente predominante, a dos iorubas ou nagôs. Sua visão do mundo material e sobrenatural foi a que mais se espalhou, tanto no centro-sul da África, como no Brasil, e os Orixás mais populares são dela originados. Os rituais Jeje, do Daomé (atual República do Benin), também encontraram espaço, principalmente porque tiveram de lutar contra mitos antagônicos dos iorubas; na verdade, o Daomé foi, há muitos séculos, dominado politicamente por um povo de civilização mais recente, os iorubas. Assim como Roma se comportou em relação aos mitos gregos, assimilando-os gradativamente e adaptando-os as suas próprias necessidades, os iorubas assimilaram usos, costumes e Orixás daomeanos, como Nanã, Iroco, Omolu e outros. Uma diferença, porém, sempre existiu para quem se propusesse a analisá-los. Os mitos iorubas manifestavam grande vitalidade, envolvendo personalidades extrovertidas como Exu. Já os Orixás daomeanos são mais frios, vindos de uma cultura mais hierarquizada, onde os deuses são vistos de maneira um pouco ameaçadora e coercitiva; não costumam ter o senso de humor dos iorubas, sua flexibilidade, onde contendas difíceis às vezes são resolvidas por palavras hábeis. O mundo dos daomeanos é mais soturno, discreto, perigoso. Nesse sentido, dois Orixás iorubas fogem da tradição básica: o mago Oçanhe, o solitário senhor das folhas, e Oxóssi, o caçador. Ambos são irmãos de Ogum na maior parte das lendas e possuem em comum o gosto pelo individualismo e o ambiente que habitam; a floresta virgem, as terras verdes não cultivadas. A floresta é a terra do perigo, o mundo desconhecido além do limite estabelecido pela civilização iorubana, é o que está além do fim da aldeia. Os caminhos não são traçados pelas cabanas, mas sim pelas árvores, o mato invade as trilhas não utilizadas, os animais estão soltos e podem atacar livremente. É o território do medo. Oxóssi é o Orixá masculino ioruba responsável pela fundamental atividade da caça. Por isso na África é também cultuado como Ode, que significa caçador. É tradicionalmente associado à lua e, por conseguinte, à noite, melhor momento para a caça. Oxóssi e Oçanhe têm na floresta o próprio fim, nela se escondem. O primeiro para capturar os animais, o segundo para poder estudar sozinho e recolher as folhas sagradas. Oxóssi e Oçanhe representam as formas mais arcaicas de sobrevivência, a apologia da caça em detrimento da agricultura, a apologia da magia e do ocultismo em detrimento da ciência. Ao mesmo tempo, Oxóssi está mitologicamente muito próximo de Ogum, como conciliando o novo e o velho, as novas atividades com as tradicionais. Na Umbanda, recebe o título de Rei das Matas, sendo à ele consagrada a cor verde. Já no Candomblé, a cor verde é consagrada a Oçanhe por sua proximidade com as folhas, ficando o azul para Oxóssi, um azul pouco mais vivo e claro que o de Ogum, numa transição cromática. Outro dado que identifica e aproxima Oxóssi de Ogum, é o fato de ambos representarem atividades e possuírem temperamentos próprios de uma mesma faixa etária, a juventude (mas não a adolescência, pois são mitos adultos, viris), onde a energia se expressa fisicamente. Assim como o irmão ligado à guerra, Oxóssi é um Orixá que vive ao ar livre e está sempre longe de um lar organizado e estável. Seu combate cotidiano, entretanto, está nas matas, caçando os animais que vão garantir a alimentação da tribo, sendo por isso consagrado como protetor dos caçadores e eterno provedor da subsistência do gênero humano. Protege tanto o que mata o animal como o próprio animal, já que é um fim nobre a morte de um ser para servir de alimento para outro. Protege os antagonistas, o caçador, e a caça, pois são seres do mesmo espaço, a floresta. Por isso Oxóssi nunca aprova a matança pura e simples, para ele a morte dos animais deve garantir a comida para os humanos ou os rituais para os deuses, sendo símbolo de resistência à caça predatória. O conceito de liberdade e independência para Oxóssi é muito claro. Sua responsabilidade principal com relação ao mundo é garantir a vida dos animais para que possam ser caçados. Em alguns cultos de Umbanda, também se atribui à ele o poder sobre as colheitas, já que agricultura foi introduzida historicamente depois da caça como meio de subsistência. Segundo Pierre Verger, o culto a Oxóssi é bastante difundido no Brasil mas praticamente esquecido na África. A hipótese do pesquisador francês é que Oxóssi foi cultuado basicamente no Keto, onde chegou a receber o título de rei. Essa nação, porém foi praticamente destruída no século XIX pelas tropas do então rei do Daomé. Já no Brasil, o Orixá tem grande prestígio e força popular, além de um grande número de filhos. Seus símbolos são ligados à caça: no Candomblé, possui um ou dois chifres de búfalo dependurados na cintura. Na mão, usa o eruquerê (eiru), que são pelos de rabo de boi presos numa bainha de couro enfeitada com búzios. O mito do caçador explica sua rápida aceitação no Brasil, pois identifica-se com diversos conceitos dos índios brasileiros sobre a mata ser região tipicamente povoada por espíritos de mortos, conceitos igualmente arraigados na Umbanda popular e nos Candomblés de Caboclo, um sincretismo entre os ritos africanos e os dos índios brasileiros, comuns no Norte do País. Talvez seja por isso que, mesmo em cultos um pouco mais próximos dos ritos tradicionalistas africanos, alguns filhos de Oxóssi o identifiquem não com um negro, como manda a tradição, mas com um Índio. Seu objeto básico é o arco e a flecha, o ofá e o damatá. Oxóssi é o que basta a si mesmo. A ele estiveram ligados alguns Orixás femininos, mas o maior destaque é para Oxum, com quem teria mantido um relacionamento instável, bem identificado no plano sexual, coisa importante tanto para a mãe da água doce como para o caçador, mas difícil no cotidiano, já que enquanto ela representa o luxo e a ostentação, ele é a austeridade e o despojamento.
CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OXÓSSIO filho de Oxóssi apresenta arquetipicamente as características atribuídas do Orixá. Representa o homem impondo sua marca sobre o mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo. Oxóssi desconhece a agricultura, não muda o solo para ele plantar, apenas recolhe o que pode ser imediatamente consumido, a caça. No tipo psicológico a ele identificado, o resultado dessa atividade é o conceito de forte independência e de extrema capacidade de ruptura, o afastar-se de casa e da aldeia para embrenhar-se na mata, afim de caçar. Seus filhos, portanto são aqueles em que a vida apresenta forte necessidade de independência e de rompimento de laços. Nada pior do que um ruído para afastar a caça, alertar os animais da proximidade do caçador. Assim os filhos de Oxóssi trazem em seu inconsciente o gosto pelo ficar calado, a necessidade do silêncio e desenvolver a observação tão importantes para seu Orixá. Geralmente Oxóssi é associado às pessoas joviais, rápidas e espertas, tanto mental como fisicamente. Tem portanto, grande capacidade de concentração e de atenção, aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para agir. Sua luta é baseada na necessidade de sobrevivência e não no desejo de expansão e conquista. Busca a alimentação, o que pode ser entendido como sua luta do dia-a-dia. Esse Orixá é o guia dos que não sonham muito, mas sua violência é canalizada e represada para o movimento certo no momento exato. É basicamente reservado, guardando quase que exclusivamente para si seus comentários e sensações, sendo muito discreto quanto ao seu próprio humor e disposição. Os filhos de Oxóssi, portanto, não gostam de fazer julgamentos sobre os outros, respeitando como sagrado o espaço individual de cada um. Buscam preferencialmente trabalhos e funções que possam ser desempenhados de maneira independente, sem ajuda nem participação de muita gente, não gostando do trabalho em equipe. Ao mesmo tempo , é marcado por um forte sentido de dever e uma grande noção de responsabilidade. Afinal, é sobre ele que recai o peso do sustento da tribo. Os filhos de Oxóssi tendem a assumir responsabilidades e a organizar facilmente o sustento do seu grupo ou família. Podem ser paternais, mas sua ajuda se realizará preferencialmente distante do lar, trazendo as provisões ou trabalhando para que elas possam ser compradas, e não no contato íntimo com cada membro da família. Não é estranho que, quem tem Oxóssi como Orixá de cabeça, relute em manter casamentos ou mesmo relacionamentos emocionais muito estáveis. Quando isso acontece, dão preferência a pessoas igualmente independentes, já que o conceito de casal para ele é o da soma temporária de duas individualidades que nunca se misturam. Os filhos de Oxóssi, compartilham o gosto pela camaradagem, pela conversa que não termina mais, pelas reuniões ruidosas e tipicamente alegres, fator que pode ser modificado radicalmente pelo segundo Orixá (ajuntó). São pessoas tipicamente extrovertidas, gostando de viver sozinhas, preferindo receber grupos limitados de amigos. É portanto, o tipo coerente com as pessoas que lidam bem com a realidade material, sonham pouco, têm os pés ligados à terra.

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