segunda-feira, 21 de setembro de 2009

OÇANHE -OSSAIN


O PERFIL DO ORIXÁOÇANHE* é o Orixá masculino de origem nagô (ioruba) que como Oxóssi, habita a floresta. É bastante cultuado no Brasil, sendo conhecido por diversos nomes, Oçãe, Oçãim, Oçanha, Oçânim e Oçonhe, a forma mais popular. Por causa do som final da palavra, é freqüentemente confundido com uma figura feminina. Não é um dos Orixás que possuem mais filhos-de-santo: pelo contrário, seus filhos são do tipo raro, bem menos numerosos em qualquer sociedade. * Embora mais usuais, evitar as variações com dois SS. É o Orixá da cor verde, do contato mais íntimo e misterioso com a natureza. Seu domínio estende-se ao reino vegetal, às plantas, mais especificamente às folhas, onde corre o sumo. Por tradição, não são consideradas adequadas pelo Candomblé mais conservador, as folhas cultivadas em jardins ou estufas, mas as das plantas selvagens, que crescem livremente sem a intervenção do homem. Não é um Orixá da civilização no sentido do desenvolvimento da agricultura, sendo como Oxóssi, uma figura que encontra suas origens na pré-história. As áreas consagradas a Oçanhe nos grandes Candomblés, não são jardins cultivados de maneira tradicional, mas sim os pequenos recantos, onde só os sacerdotes (mão de ofá) podem entrar, nos quais as plantas crescem da maneira mais selvagem possível. Graças a esse domínio, Oçanhe é figura de extrema significação, pois praticamente todos os rituais importantes utilizam, de uma maneira ou de outra, o sangue escuro que vem dos vegetais, seja em forma de folhas ou infusões para uso externo ou de bebida ritualística. Segundo algumas lendas, Oçanhe era dono de todos os vegetais. Esse poder concentrador, porém, fazia os outros Orixás dependerem dele em quase todos os litígios. Como os orgulhosos deuses do panteão africano raramente se submetem a qualquer tipo de autoridade, a rebelião era latente, até Iansã, a senhora dos ventos, libertar uma forte corrente de ar (ou mesmo um furacão, conforme a versão), fazendo as folhas voarem. Com isso, elas foram divididas entre todos os Orixás, de acordo com a esfera da atividade humana que controlassem. Algumas plantas, entretanto, continuaram sob o domínio de Oçanhe, justamente as mais secretas, utilizadas tanto nos processos de cura, como nos de adivinhação. Seja filho de Oxalá ou de Nanã, ou de qualquer outro Orixá, uma pessoa sempre tem de invocar a participação de Oçanhe ao utilizar uma planta para fins ritualísticos, pois, se os vegetais foram para o domínio de outras divindades, a capacidade de retirar delas sua força energética básica, continua sendo segredo de Oçanhe .Por isso não basta possuir a planta exigida como ingrediente de um prato a ser oferecido ao Orixá, ou de qualquer outra forma de trabalho mágico no Candomblé. A Colheita das folhas já é completamente ritualizada, não se admitindo uma folha colhida de maneira aleatória. Antes de tocá-la, o sacerdote (mão de ofá) tem de colocar no chão, dinheiro ou outros objetos secretos de culto como oferenda para a divindade, que assim assegura que a vibração básica da folha permaneça, mesmo depois de ela ter sido afastada da planta e, portanto do solo que a vitalizava. Se cada ser humano é individualizado pela soma das características e presenças energéticas de seus próprios Orixás (ELEDÁ = PAI, MÃE, 1o e 2o Juntós) também troca energia com as outras fontes que regularizam e ditam normas de seu relacionamento com as outras áreas do conhecimento. Oçanhe tem uma aura de mistério em torno de si e a sua especialidade, apesar de muito importante, não faz parte das atividades cotidianas, constituindo-se mais numa técnica, um ramo do conhecimento que é empregado quando necessário o uso ritualístico das plantas para qualquer cerimônia litúrgica, como forma condutora da busca do equilíbrio energético, de contato do homem com a divindade. Essa é a justificativa para o pequeno número de filhos de Oçanhe.
AS CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OÇANHEA pessoa cujo Orixá de cabeça seja Oçanhe é considerada pelo culto um filho do Orixá, ou seja, alguém que carrega manifestações de temperamento e uma visão de mundo coerente com as de energia-base, que é o próprio Orixá. Segundo o pesquisador francês Pierre Verger, um apaixonado pelo Candomblé, que é inclusive um iniciado, o arquétipo psicológico associado a Oçanhe é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de controlar seus sentimentos e emoções. Os filhos de Oçanhe são aqueles que não permitem que suas simpatias e antipatias subjetivas e individuais intervenham em suas decisões ou influenciem as suas opiniões sobre pessoas e acontecimentos. Essa capacidade de discernimento frio e racional, porém, é o responsável pela sua falta de interesse. O tipo de Oçanhe é o mais reservado, pouco intervindo em questões que não lhe digam respeito. Não é introvertido, mas não se faz notar pela atividade social. Certa aura de mistério ou pelo menos uma reserva sobre o próprio passado, podem estar presentes, sem chamar a atenção e evitando que alguém conheça detalhes sobre sua vida pregressa, a qual geralmente esconde alguma falta importante do passado, possivelmente já esquecida. O filho de Oçanhe, tem certa atração pela religiosidade e pelos aspectos ritualísticos da realidade em geral. A ordem, os costumes, as tradições e os gestos marcados e repetitivos, o fascinam, não no sentido especificamente reacionário das pessoas que querem a repetição das mesmas e imutáveis relações sociais ad eternum, mas nos que elas tem de místico, de teatral. É, conseqüentemente, meticuloso, nunca se deixando levar pela pressa ou pela ansiedade, pois é, caprichoso.

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