segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tradições


O Halloween, como é celebrado atualmente, apresenta muitas diferenças se comparado à festa original, restando apenas a alusão aos mortos, ainda que fracamente. Aos poucos foram sendo incorporados à data elementos estranhos de diferentes origens, que se popularizaram rapidamente, principalmente nos Estados Unidos e no Canadá, Isso transformou o Halloween em um evento principalmente comercial e cultural dos norte-americanos, que o têm como uma tradição muito especial, perdendo apenas para o Natal e o Dia de Ação de Graças.

Dentre as tradições acrescidas, temos, por exemplo, o costume de se fantasiar ou “disfarçar”, que possivelmente teve origem na França entre os séculos XVI e XV. Nessa época, a Europa era cruelmente flagelada pela peste bubônica, que dizimou um terço de sua população. Diariamente milhares morriam, e a cura para a doença parecia simplesmente não existir. Isso aumentava consideravelmente o temor e a preocupação das pessoas em relação à morte. A Igreja rapidamente reagiu, multiplicando as missas realizadas no Dia de Finados e Todos os Santos. Nasceram também representações artísticas de caráter burlesco ou satírico, chamadas de Danças da Morte ou Danças Macabras. Na véspera de Finados, alguns fiéis enfeitavam os cemitérios com desenhos ou pinturas do Diabo puxando alegremente uma fila de pessoas para dentro das tumbas, fossem elas reis, cavaleiros, damas, mendigos ou camponeses porque, afinal, a morte não faz distinções de qualquer espécie. Além disso, também eram encenadas representações teatrais, com pessoas que se fantasiavam de diferentes personalidades e também de Morte ou Diabo, à qual todos os outros personagens deveriam apresentar-se. Esse costume de se fantasiar na Noite das Bruxas se mesclou a outro, o de pedir “doces sob a ameaça de uma travessura”. Na Idade Média, uma das práticas populares do Dia de Finados era pedir “bolos das almas”, sobremesas de massa geralmente simples com coberturas de groselha. Quem pedia esses bolos eram as crianças, que passavam de porta em porta vestindo fantasias chamadas “soulings” (uma referência à palavra “alma”, ou “almejar”). Para cada bolo ganho, era ofertada uma oração aos familiares da pessoa que lhe dera o bolo. Essas eram as orações que ajudariam as pessoas a saírem do purgatório e irem para o Céu. Uma outra origem possível para essa tradição é inglesa, no período histórico de perseguição protestante contra os católicos (mais ou menos de 1500 a 1700). Os católicos ingleses haviam sido privados de seus direitos legais, não podendo exercer nenhum cargo público e tendo pesadas multas, impostos e prisões contra eles. Celebrar a missa era pena capital, e centenas de padres sofreram as conseqüências da desobediência. Logo houve uma tentativa um atentado contra o rei protestante Jorge I, em que o objetivo era explodir o Parlamento e matá-lo, gerando um levante de católicos contra a opressão. Os católicos conspiradores esconderam 36 barris de pólvora nos subterrâneos da Casa dos Lordes. O plano ficou conhecido como “Gunpowder Plot” (“Conspiração da Pólvora”), e foi rapidamente descoberto em 5 de novembro de 1605, quando um católico convertido chamado Guy Fawkes foi pego escondendo pólvora em sua casa. Ele foi enforcado logo em seguida. A data de sua morte tornou-se uma grande festa na Inglaterra, que ainda é celebrada atualmente, principalmente com fogueiras. Alguns protestantes comemoram usando máscaras e visitando os amigos e parentes católicos, exigindo-lhes cervejas, doces, ou pastéis. A festa foi trazida para os Estados Unidos pelos colonos, que a uniram ao Halloween, já introduzido pelos imigrantes irlandeses. A frase “travessuras ou gostosuras” (em inglês, “trick or treat”) também é originária dos irlandeses, que a popularizaram nos Estados Unidos.

Existem também algumas evidências históricas de que “travessuras ou gostosuras” tenha sido uma atividade comum da tradição celta original. Já sabemos que eles vestiam fantasias demoníacas, desfilando pelas cidades para afugentar os espíritos vagantes que desejavam corpos. Além disso, as crianças iam caminhando de porta em porta, pedindo lenha para uma enorme fogueira, que seria o centro da celebração, sendo apagadas todas as outras fogueiras e lampiões do vilarejo. No fim da festa, cada um levaria para casa um graveto com uma chama da fogueira central, como símbolo da unidade entre as pessoas do local. É possível também que os sacerdotes druidas se vestissem como os deuses, incorporando as características de um ou outro, e também existe a possibilidade de que eles passavam de casa em casa pedindo comida como oferenda às divindades. Alguns historiadores aceitam evidências de que os celtas realizavam sacrifícios de animais e até mesmo humanos em suas celebrações. Essas evidências não são convincentes, já que os principais relatos desses costumes rituais são do imperador romano Júlio César, que conquistou a Gália e a Bretanha, registrando tudo o que descobriu sobre as novas terras. De acordo com ele, os druidas criavam enormes esculturas feitas com galhos e ramos de árvores, queimando as pessoas ali dentro. É consenso entre muitos estudiosos que César pretendia desmoralizar os druidas por despeito, já que eles resistiram fortemente à invasão romana, podendo muito bem ser uma visão preconceituosa contra os povos “bárbaros”, que não faziam parte das fronteiras do Império.

Quanto às “travessuras”, podemos dizer que os celtas acreditavam em diversas criaturas travessas, como fadas, duendes e elfos, e o Halloween, como momento de transição entre os mundos, seria o dia que essas criaturas escolhiam para fazer suas brincadeiras. Dizia-se, por exemplo, que se uma pessoa atravessasse um outeiro numa noite de luar, ela ficaria presa Reino dos duendes, onde o tempo não passa. Podemos também supor que a véspera do Ano Novo celta era igual à nossa, ou seja, as pessoas bebiam exageradamente, se divertiam e faziam besteiras, uma espécie de “loucura coletiva”. A tradição das travessuras, segundo essa concepção, seria simplesmente o espírito de farra que permeava o último dia do ano.

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