segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A abóbora iluminada


Já sabemos que no fim da festa de Samhain os celtas levavam para casa uma brasa da fogueira comunitária central. Geralmente eram utilizados nabos ocos para o transporte, uma espécie de lanterna que lembrava muito as abóboras utilizadas na comemoração do Halloween. Essa não é, entretanto, a origem direta do costume de iluminar abóboras recortadas com feições humanas. O folclore irlandês do século XVIII era muito rico em superstições, tradições e cultura celta, que fazia parte significativa da cultura nacional. Um dos mitos mais conhecidos dos irlandeses era o do Jack Miserável, um personagem muito popular.

De acordo com a lenda, Jack era um velho fazendeiro alcoólatra, muito grosseiro, e um avarento de péssima reputação. Numa noite de 31 de outubro, ele bebeu demais e o Diabo em pessoa veio levar sua alma. Jack lhe implora mais um copo de bebida antes de ser levado ao Inferno, e o Diabo atende seu pedido. Como estava sem dinheiro para pagar o trago, ele pede ao demônio que se transforme em uma moeda, no que ele concorda. Quando vê a moeda sobre a mesa, Jack a coloca rapidamente em uma carteira que possuía o fecho em formato de cruz, impedindo Satã de sair. O Diabo, furioso, ordena que Jack o tire dali, e o trapaceiro lhe propõe um acordo: libertá-lo em troca de ficar na Terra por mais um ano. Sem opções, o Diabo concorda. Jack até tenta mudar de conduta, mas acaba voltando a ser o velho beberrão violento de sempre. No ano seguinte, como prometido, o Diabo lhe aparece na Noite de Todos os Santos, desta vez para levá-lo definitivamente. Espertalhão, Jack convence o demônio a subir em uma árvore para pegar umas maçãs, a última refeição que ele faria. Ele faz cruzes no tronco da árvore com seu canivete, impedindo novamente o Diabo, que promete desaparecer por dez anos se fosse liberto. Jack não aceita, e exige que o Diabo não lhe aborreça nunca mais, deixando-o em paz para sempre. O Diabo acaba aceitando, e Jack o deixa descer da árvore. No ano seguinte, por azar, ele acaba morrendo. Sua alma, ao chegar no Céu, é prontamente barrada, já que ele teve péssima conduta em vida, cheia de pecados e erros incorrigíveis. Jack tenta entrar no Inferno, mas o Diabo, para honrar o acordo, e talvez temendo mais uma trapaça, também não o aceita. Desse modo, Jack é condenado a vagar pela eternidade no Limbo entre os Reinos da Terra, do Céu e do Inferno. Assim que Satã o rejeita, ele lhe joga uma brasa para iluminar seu caminho no escuro e tenebroso Limbo. Jack coloca o fogo dentro de um nabo oco, e sai vagando pelos entre-mundos. A lenda diz que sua alma penada, conhecida como Jack O´Lantern, vaga pela Terra carregando sua lanterna na Noite de Todos os Santos, em que os véus entre os mundos caem. As lanternas feitas com nabos ocos e brasas ou velas dentro eram muito populares entre os escoceses e irlandeses, que as penduravam nas portas de casa e jardins para evitar Jack e outros espíritos errantes do Halloween, alem de também serem representações das almas falecidas. As famílias desses povos que emigraram para a América levaram essa tradição folclórica, substituindo os nabos pelas abóboras, que eram mais abundantes e mais fáceis de cortar. Logo surgiu a idéia de criar caras assustadoras e outros desenhos artísticos nas abóboras, um costume preservado até os dias de hoje. Interessante lembrar que a cabeça, para os celtas, era o centro do intelecto e da mente, sendo a parte mais poderosa do corpo, o que talvez justifique a transformação da abóbora na cabeça de Jack. Quanto a ele, provavelmente continua vagando pelo Limbo, e no Dia das Bruxas, faz sua visita à Terra…

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