sábado, 10 de outubro de 2009

O mito de Lilith


"No dia em que Deus criou Adão o fez à semelhança de Deus; e macho e fêmea os criou, os abençoou e os chamou homens no dia em que os criou".
(Gênesis V, 2)
A lendária Lilith-Lilitu-Lulu, representação da sexualidade que pode, no período noturno, excitar e submeter o homem, foi a primeira companheira de Adão. Criada logo após a criação do primeiro homem (répteis, demônios e Lilith foram as últimas criações de Deus no sexto dia, exatamente nas horas do entardecer da Sexta-feira, ao avançar das trevas, pouco antes de entrar o Sábado, dia sagrado para os hebreus) e da sobra da matéria da criação do mesmo, a sujeira e o sedimento, tomou para si o posto de primeira feminista da história da humanidade tentando, sob a autoridade do macho, reconquistar a paridade, a igualdade de direitos.
"Não a criei da cabeça, mas ela se assoberbou... Nem do olho, mas ela é ansiosa por ver. Nem do ouvido, mas ela é ansiosa por ouvir. Nem da boca, mas ela é faladeira. Nem do coração, mas ela é invejosa. Nem da mão, mas ela toca tudo. Nem do pé, mas ela é andarilha..."
Presumivelmente, Lilith e Adão tiveram um curto período de convivência, pois no primeiro ato sexual Adão impôs-lhe uma posição submissa, negando-lhe o direito de estar também por cima satisfazendo-se. Percebendo a repulsa que causava em seu companheiro, temeroso de se afastar da divindade por desejar unir eros e sexo, abandonou-o e seguiu vagando pelo mundo em busca de outros parceiros entre os anjos caídos, com quem constituiu uma enorme família de demônios chamados Lillim, gerando cem destes por dia.
"Procurei em meu leito, à noite, aquela que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei"
(Cântico dos Cânticos III, 1)
Enquanto isso, Adão permaneceu só e reclamando. Tendo medo da escuridão opressora.
Daí a associação do mito de Lilith à Lua Negra estar intimamente ligada aos ciclos lunares, onde lua crescente e lua cheia correspondem à Grande Mãe, a plenitude da fertilidade; e concluída a última fase, desaparece, realizando-se a analogia com a Lua Negra, a ausente, quando os homens são tragados pela obscuridade e a terra é esterilizada. O bem e o mal fundindo-se, da atitude benévola à vingança.
Deus, vendo o desespero de Adão, enviou três anjos, Semangelaf, Sanvi e Sansanvi, para trazê-la de volta ao Éden, o que ela recusou terminantemente a aceitar. Como castigo pela sua recusa de submissão, os anjos, a cada dia de novas tentativas, sacrificavam cem de seus bebês-demônios.
Estava então declarada uma guerra entre o Criador e as criaturas, em que Lilith, buscando vingança pela morte de suas crianças, procurava tomar para si mulheres em parto e bebês recém-nascidos de seus berços (meninos até o oitavo dia de vida e mulheres até os vinte anos) que não portassem o amuleto com o nome dos três anjos.
Eletra - Piedade irmão, piedade, ai ! O teu olhar está perturbado. Raciocina, e de sábio que era, em um instante se torna louco ! Orestes - Oh, mãe, suplico-te, suplico-te, não arremesse contra mim as virgens de cabelos hirto de serpentes e de olhos que sangram ! Ei-las, ei-las ! Estão aqui, lançam-se, tenho-as em cima ! Eletra - Oh, pobre querido, não te movas, permanece em teu leito, acalma-te ! Não vejas nada daquilo que a ti parece ser certo e que te faz pensar que sabes. É uma aparição. Orestes - Febo, matar-me-ão as terríveis deusas subterrâneas, as sacerdotisas do inferno, de olhos de Górgonas e de vulto de cadela. Eletra - Eu não te deixo, agarrar-me-ei a ti, apertar-te-ei entre meus braços, impedirei que tu, em teus sobressaltos, possa ferir-te. Orestes - Não, deixai-me ! Sois uma das Erínies, e me mantedes na vida para atirar-me ao Tártaro. (Orestes, Eurípedes)
Porém, não só as mulheres e crianças estavam propensas a sofrer os ataques de Lilith. Os homens, que estivessem em sono solitário, eram seduzidos por ela, abraçados de forma que não pudessem se libertar e muitos tinham seu sangue sugado. Sobre o mito de Lilith é possível encontrar vários testemunhos orais reunidos nos textos da sabedoria rabínica definida na versão jeovística, que precede de alguns séculos a versão bíblica dos sacerdotes, que precede ainda a versão sacerdotal dos Pais da Igreja.
Livros Lilith - A lua negra / Roberto Sicuteri Livro de Lilith, O / Barbara Black Koltuv

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