Como todas as religiões indo-européias, a religião celta era, portanto, politeísta. Mas seu panteão não parecia em nada com o clássico. Os deuses celtas não formavam uma sociedade bem ordenada, bem policiada, com uma hierarquia e uma divisão do trabalho. Eles tinham características diferentes, mas não atribuições diferentes: cada um deles era mais ou menos polivalentes. Mesmo se tinham temperamentos bastantes fortes, e viviam aventuras extravagantes, nem por isso se fechavam e se restringiam a uma função definitiva.
As concepções dos antigos celtas eram muito mais próximas das atuais concepções orientais que das do paganismo helênico.
Os deuses celtas apresentavam outras diferenças fundamentais com relação aos de Roma e da Grécia. Em primeiro lugar, não tinham qualquer aspecto físico. Era impensável apresentá-los sob uma aparência humana. Todos sabiam que tratavam de puros espíritos.
Lembrei do riso do chefe gaulês Breno, por ocasião da tomada do templo de Delfos, quando ele se deu conta de que os deuses do Olimpo estavam ali representados por estátuas antropomórficas. O prestígio que a cultura grega tinha até então para ele não sobreviveu a tal constatação. Foi somente sob a ocupação romana que, para agradar ao ocupante, os gauleses (celtas franceses) que haviam se tornado "galo-romano", começaram a esculpir estátuas nos quais davam a suas divindades aspecto humano.
Os deuses celtas não viviam em comunidade, num habitat coletivo do tipo do Olimpo: eles dividiam entre si as grutas, os túmulos, as fontes, os dómens, o interior das montanhas. O conjunto dessas moradas constitui o outro mundo, universo paralelo maravilhoso de felicidade e paz, que os irlandeses chamavam de Sid (expressão que significa paz). Aliás, os habitantes não eram unicamente deuses e deusas. Todos os seres sobrenaturais faziam parte dele: fadas e elfos, gênios, duendes e os mortos. Eis um ponto que distancia os celtas das crenças greco-latinas. Para os antigos celtas, os falecidos iriam encontrar, num mundo melhor, as pessoas divinas, equivalentes aos ancestrais.
Quanto às ligações de parentesco, não deve-se considerá-las de um ponto de vista realista ou racional. Tal deus que, em determinado relato, era filho de tal outro, podia ser seu pai ou seu irmão, em outro. No Sid, era perfeitamente possível ser mais velho que seu avô. Aliás, não era sequer proibido que se gerasse a própria mãe.
Da Religião de povos que os precederam nas terras do Ocidente, os celtas haviam conservado o culto à Deusa Mãe, a qual deram o nome de Dana. Ela é também a tripla Brigith, a deusa una em três pessoas. A Grande Deusa era a mãe de todos os deuses, mas também a distribuidora de toda a vida. Seu emblema era a Lua, ou melhor, a Lua era uma das Teofanias que a manifestavam.
Escrito por Gallugh
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