segunda-feira, 25 de outubro de 2010
31 de Outubro – Halloween / Samhain / Dia das Bruxas
Quem nunca assistiu a um filme em que crianças fantasiadas batem de porta em porta e perguntam: “Travessuras ou Gostosuras” ? Ou então não se encantou com as centenas de séries, filmes e desenhos animados com seus magos, bruxas e afins ? Ou não se assustou com algum filme de terror em que um serial killer mascarado escolhe uma data do ano para atacar e matar quem estiver em seu caminho ? Isso tudo tem estreita relação com uma famosa data celebrada no dia 31 de outubro: O Halloween, ou Dia das Bruxas. O Halloween, como nós o conhecemos, tem suas origens nas regiões da Gália e as ilhas da Grã-Bretanha, por volta dos anos 600 a.C. a 800 d.C., mas inicialmente não era relacionado à bruxaria. A data, na realidade, é um dos festivais do calendário celta, a comemoração do Samhain (pronuncia-se Souen ou Sauáin, significa literalmente “fim do verão”, em irlandês), que celebrava o fim do verão e ocorria entre os dias 30 de outubro e 7 de novembro. Podemos dizer que o Halloween tem duas origens distintas: a pagã e a cristã.
A religião celta, o druidismo, não tinha registros escritos. Tudo era transmitido oralmente e, portanto, perdeu-se um pouco do conhecimento sobre os significados de determinados conceitos religiosos. Muitos historiadores discordam com relação a determinadas afirmações sobre as tradições religiosas célticas. O que se sabe é que o Samhain era uma festa que comemorava o fim do verão, o início de um novo ano e o final da terceira e última colheita. Começava-se também o armazenamento das provisões para o inverno, que lentamente se aproximava. Uma das bases da sociedade celta era o pastoreamento de ovelhas e gado. No final de outubro o tempo esfriava mais, e os pastores traziam seus animais para pastos mais próximos de sua casa, o que geralmente representava significativas mudanças na rotina diária. Nos meses do outono e do inverno, todos passavam mais tempo juntos, dentro ou próximo de suas casas, realizando artesanatos, trabalhos domésticos e armazenando comida. De acordo com a tradição celta, a mudança era considerada como um momento em que as coisas transitam de um estado para outro. O ponto de equilíbrio entre os extremos era muito caro à filosofia celta, e o fim do verão era uma representação disso, portanto, tinha propriedades ditas “mágicas”, ou seja, uma abertura ou conexão com os mortos, que haviam passado pela última e fatal mudança. Como era uma data que ficava a meio caminho do solstício de verão e o de inverno, os celtas a relacionavam ao momento em que o véu entre os mundos – dos vivos e dos mortos – é mais tênue, e assim, é um festival dos antepassados, a época de se ligar aos espíritos e aos mais velhos. A celebração era presidida pelos sacerdotes druidas, que atuavam como médiuns, incorporando espíritos para que esses pudessem falar com seus familiares e amigos. Enormes fogueiras eram construídas, e as pessoas se reuniam para queimar oferendas às deidades. Durante a comemoração, os druidas usavam trajes específicos, geralmente constituídos de peles e cabeças de animais. Acreditava-se também que os espíritos dos mortos naquele ano retornavam para visitar seus antigos lares e guiar os familiares ao Outro Mundo e que, algumas vezes, esses espíritos procuravam corpos vivos para possuir e usar pelo tempo que quisessem. Desse modo, na noite de 31 de outubro todas as tochas e fogueiras eram apagadas, o ambiente tornava-se hostil e escuro, e as pessoas vestiam-se com fantasias, folhas e galhadas, desfilando em procissão pelas ruas para assustar os que procuravam corpos para possuir. Sabe-se também que os celtas veneravam a constelação das sete estrelas, as Plêiades, que alcançam seu ponto mais alto no céu setentrional no dia 31 de outubro, e depois desciam lentamente para o Hemisfério Sul. Por isso, havia a crença de que o verão sempre voltaria e terminaria com o surgimento das Plêiades. Todas essas tradições foram adotadas pelos romanos, que invadiram as Ilhas Britânicas por volta de 46 a.C. Posteriormente eles abandonaram os costumes, substituindo-os por outros. Com o advento do cristianismo, a religião celta foi aos poucos desaparecendo, e em meados do século II d.C. ela praticamente não existia mais, restando apenas alguns resquícios das celebrações originais. É necessário dizer que, entre os celtas, o Halloween não tinha uma relação específica com a bruxaria. Entretanto, os povos célticos da Irlanda que migraram para os Estados Unidos no início da colonização levaram as tradições do Samhain, e a festa logo ganhou aceitação local, mesclando-se às histórias de bruxas contadas pelos índios norte-americanos e, mais tarde, às crenças em magia negra e vodu que permeavam as religiões dos escravos africanos.
A origem cristã do Halloween também é controversa. Sabemos que a Igreja Católica sempre homenageou seus mortos, e caso a pessoa seja de fato muito virtuosa ou realize milagres em vida, ela ganha o direito de ser canonizada e se tornar “santa”, intermediária entre Deus e o Homem, capaz de realizar milagres no plano físico. Geralmente esses santos são homenageados pelos católicos em seus “dias” específicos, geralmente seu aniversário de morte. Entretanto, como são milhares de santos, por vezes é impossível estabelecer datas celebrativas para todos. Sabe-se que, desde o século IV, a Igreja da Síria consagrava um dia à celebração de Todos os Mártires. No século VII, o Papa Bonifácio IV transforma um templo romano dedicado a todas as divindades (chamado de Panteão) em uma Igreja dedicada a Todos os Santos, ou seja, a todos que o precediam na fé. Ele estabelece também o Dia de Todos os Santos, com o intuito de homenagear todos os canonizados em uma mesma data, no caso, 13 de maio. Mais tarde, no século VIII, o Papa Gregório III transfere a data para 1º de novembro, dia da dedicação da Capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Em 840, O Papa Gregório VII ordena que esse dia seja celebrado universalmente, tornando-a uma festa de grandes proporções. Para tanto, havia uma celebração vespertina (ou vigília) na noite do dia 31 de outubro, o que estava de acordo com as tradições judaicas, em que os dias santos eram considerados do pôr-do-sol de um dia ao pôr-do-sol do dia seguinte. Essa vigília era chamada de All Hallows’ Even, ou seja, Noite de Todos os Santos, véspera do All Hallows’ Day (Dia de Todos os Santos). A palavra “Hallow”, em inglês arcaico, tinha o significado de “pessoa santa”. Com o tempo a Noite de Todos o Santos passou de All Hallows’ Even a Hallowe’en até chegar ao que conhecemos hoje, o Halloween. É senso comum entre os historiadores de que a mudança de data para 1º de novembro era parte de uma antiga política da Igreja Católica de associar tradições não-cristâs ou pagãs a suas festividades, com o firme intento de converter mais pessoas à fé cristã, mesmo que isso significasse alterar o calendário religioso para que esse correspondesse às datas pagãs. Com a incorporação do Samhain ao Dia de Todos os Santos, a Igreja também acabou incorporando determinadas tradições célticas às celebrações do Dia de Todos os Santos, o que ajudou a trazer para o Cristianismo católico os descendentes dos Celtas, principalmente irlandeses. Entretanto, a coloração espiritual ou sobrenatural da data ainda ficou muito forte e, com a disparidade de religiões, a Igreja cria o Dia de Finados no século XIII, com a intenção de homenagear os mortos cristãos. No catolicismo, são feitas orações aos entes queridos que estão no purgatório, período de purificação (através do sofrimento) pelo qual as almas passam para posteriormente entrarem no Céu. Apesar da introdução de mais esse feriado, continuou a curiosidade dos cristãos em relação aos espíritos dos mortos que voltava, vez que essa era a idéia básica da festividade original do Samhain. Assim, a Igreja passa a associar esses espíritos a demônios ou criaturas do mal, e por isso o Halloween apresenta algumas vezes imagens tão horripilantes.
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